O ano era 2007 e o Brasil acabava de ser impactado pelo que se tornou um dos personagens mais icônicos da história do nosso cinema: Capitão Nascimento.
Tropa de Elite e a sua sequência foram um sucesso arrebatador. O que pouca gente sabe é que, por uma ilha de edição, o dono de jargões como “pede pra sair” não foi parar no hall da fama dos coadjuvantes.
Em um papo no ótimo podcast “Na Salinha” do Daniel Oksenberg, Bráulio Mantovani, roteirista dos dois Tropas, contou que a história original do filme tinha o André Matias como protagonista.
Isso mesmo: o ator principal não seria o Wagner Moura e, sim, o André Ramiro.
Com o filme pronto, o diretor José Padilha promoveu sessões para convidados, tentando sentir como seria a recepção do público. O que aconteceu, nas palavras de Braulio, foi o seguinte:
Quando as pessoas assistiam, elas diziam que, até um minuto e cinquenta, o filme dava sono, mas na hora que o Capitão Nascimento entrava, o filme ficava demais.
Se você parar para analisar, o protagonista continua sendo o Matias. É ele quem se transforma de um cara do bem em um assassino. O Capitão Nascimento não tem um arco narrativo. Por ter um papel secundário, ele entra e sai do filme da mesma forma.
Ao ouvir a opinião das pessoas, eles tiveram que remontar toda película para construir uma narrativa com mais chances de fazer sucesso. A mágica aconteceu na ilha de edição. E influenciou a construção do roteiro do segundo Tropa.
A não ser que seja uma ideia que vai ficar guardada na gaveta, a gente sempre cria alguma coisa para alguém. A capacidade de ouvir críticas sobre seu trabalho é uma habilidade tão fundamental quanto a própria criatividade.
Uma mistura de desapego com resiliência.
Num Papo de Segunda, o Chico Bosco falou sobre como a interpretação de algo muda de pessoa para pessoa. A gente nunca diz o que quer dizer e ninguém escuta o que a gente quis dizer. E ainda citou uma frase do Lacan que montou um triplex na minha mente:
A comunicação é o sucesso do mal entendido.
Steve Jobs dizia que não ouvia consumidores antes de lançar um produto. Henry Ford disse que, se escutássemos as pessoas antes de imaginar os carros, elas pediriam cavalos mais rápidos.
Mas como dificilmente nós, meros mortais, vamos criar uma nova revolução no mercado de tecnologia e no de automóveis, só nos resta ouvir opiniões sem medo e sem pedir pra sair.
Bora garimpar?
“Um analfabeto não é incapaz de ler ou escrever. Ele só não aprendeu a fazer isso.
É o mesmo com a criatividade.”
Sir. Ken Robinson
Uma curadoria de links que me inspiram criativamente e que podem inspirar você também. Vem comigo.
- O Natal chegou no Garimpo. E não dá pra pensar nas festividades sem falar em John Lewis. A varejista britânica sempre nos presenteia com grandes filmes publicitários. Confesso que a história desse ano, de um menino e sua planta meio bizarra, não me pegou muito. Mas vale pela boa produção de sempre:
- O que eu acredito ser o mais belo filme de John Lewis:
- A campanha de Natal da Amazon é uma história sobre amizade. Três senhorinhas são pegas pela nostalgia e vão relembrar a infância com ajuda da rápida entrega da varejista. Tudo isso embalado por In My Life dos Beatles:
- Também não dá pra falar de Natal sem falar de Coca-Cola. O espírito da época foi o grande mote da sua campanha deste ano. Um plot twist, uma boa trilha, ótima direção, casting e fotografia foram as técnicas usadas para mostrar que o mundo precisa de mais “Papais Noéis”:
- Para quem como eu tem dificuldade em escolher presentes, a campanha da Etsy, um e-commerce norteamericano, quer mostrar que isso não precisa ser uma missão impossível: [link]
- Definitivamente, a Mcdonald's quer se apropriar do movimento da sobrancelha como um movimento da marca. A sua campanha de Natal deve ser a terceira vez que usam essa brincadeira para contar uma história: [link]
- A KFC ouviu seus seguidores que pediram para inserir peru no menu de Natal. E resolveu ignorá-los solenemente. Uma abordagem divertida pra reforçar seu posicionamento:
- Mas a campanha de Natal que mais me pegou foi a da Ocean Spray, uma cooperativa que, além de vender produtos à base de cranberry, volta e meia lança um filme completamente bizarro (no bom sentido). Leve mais poder para as suas festas de fim de ano: [link]
- Uma outra belíssima campanha da Ocean Spray:
- A Liquid Death é uma marca que também costuma embarcar em uma onda maluca na sua comunicação. Prova disso é sua mais recente parceria com o game Call of Duty. Eles querem salvar os zombies: [link]
- Fazer alguma coisa é melhor do que não fazer nada. De um jeito divertido, é o recado que a Rainforest Alliance quer dar para os pessimistas de plantão sobre ações de sustentabilidade:
- Aos nostálgicos do bom título publicitário, a Uber lançou seu serviço em trem com uma campanha com alguns bons deles: [link]
- Never Gonna Give You Up cantado errado para alertar sobre os problemas de perda auditiva: [link]
- 5 sites que todo Diretor de Arte/Designer precisa conhecer: [link]
- Uma coleção de ferramentas para desenvolver a criatividade: [link]
- A história por trás do símbolo da paz: [link]
- As pixel arts cinematográficas desse cara são muito legais: [link]
- A NASA lançou um streaming gratuito: [link]
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O Garimpo Criativo é escrito por João Marcelo Meira, criativo, sócio e head de Criação da Komuh. Conecte-se comigo no Linkedin, por lá também tem conteúdo.