É assim que o Garimpo Criativo funciona:
Uma reflexão inicial seguida de uma seleção de links para potencializar sua criatividade.
De 15 em 15 dias (às vezes com uma edição extra), no seu e-mail (e na sua mente).
Enquanto essa edição é finalizada, acontece a premiação do Oscar 2024. Como todas as prévias indicavam, Oppenheimer foi o grande vencedor da noite.
Por isso, precisamos falar sobre Christopher Nolan.
Apesar do mundo ter entrado numa onda forte de odiá-lo (aqui tem alguns motivos), eu gosto mais a cada novo trabalho.
Em alguns momentos, tenho uma relação com ele que diz respeito mais sobre o artista do que sobre a obra. E por uma grande razão: Nolan finca bandeiras das suas crenças em escolhas criativas e segue em frente não importa o que aconteça.
“Mas é fácil se você é Christopher Nolan”, podem dizer. Pelo contrário. Quando se chega ao nível de um diretor como ele, os riscos se tornam tão altos quanto o seu patamar.
Eu amo o M. Night Shyamalan pelo mesmo motivo: ele também se mantêm fiel às suas escolhas. Mas, ao contrário do Nolan, essas crenças o levaram a filmes horrendos que, de certa forma, prejudicaram sua carreira
Voltando a Oppenheimer, acredito que existem quatro elementos no filme que simbolizam fortemente essa característica do Nolan e que servem de inspiração criativa ao se pensar em comunicação:
Na era do streaming, um filme feito para se ver no cinema.
Nolan é obcecado por criar grandes experiências nas telonas. Em Oppenheimer (assim como em alguns outros), o diretor optou por filmar em IMAX 65mm: um formato que usa lentes maiores e que gera imagens com mais resolução e detalhes. Ou seja, um filme pensado para telas enormes. Isso gera uma série de desafios produtivos que poderiam não existir em uma escolha tradicional (como as lentes em 35mm). Vale muito ver aqui o depoimento do diretor de fotografia de Openheimmer falando sobre todo esse processo. A Kodak precisou criar um produto especialmente para a filmagem.Na era dos influenciadores, um protagonista que não está nas redes sociais.
Nolan já usou e abusou de protagonistas com trajetórias consolidadas. Mas no que poderia ser um dos grandes filmes da sua carreira, ele optou por escalar Cillian Murphy no papel principal. Um sujeito que não sabe o significado de meme (apesar de ter se tornando um), que não tem redes sociais por se achar velho demais pra isso e que, convenhamos, está longe de ser a pessoa mais carismática do cinema. Um cara que é um…ator. E que conquistou espaço “apenas” realizando bons trabalhos (seja como coadjuvante nos filmes do próprio Nolan ou como líder da gangue de Peaky Blinders). Tudo isso em um momento em que se exige de artistas em geral, habilidades que vão além das suas atividades fim: é preciso ser influenciador, produtor de conteúdo e empresário.Na era dos conteúdos curtos, um filme com mais de três horas de duração.
Muito além de impactar a guerra dos gigantes da tecnologia, o TikTok transformou a maneira como consumimos conteúdo. A rede de vídeos curtos se popularizou tão fortemente que fez todos os seus concorrentes terem funções similares: onde usuários rolam a página por horas para ver segundos de conteúdo. Até filmes estão sendo postados em pequenos pedaços. Mas a essência do trabalho de Nolan está nos seus roteiros. Vale ver aqui o quão complexo é seu processo criativo. Ele acredita no poder de uma grande história e em como isso ainda tem uma força imensa de engajar e de atrair pessoas. Seu filme vai ter a duração necessária para contar o que ele deseja e não o tempo que a indústria impõe. O resultado é um baita sucesso de bilheteria.Na era dos avanços tecnológicos, um filme com cenas reais.
Nolan é um conhecido adepto dos efeitos especiais práticos (que não usam computação gráfica). Em Tenet, ele já tinha comprado e explodido um Boeing 747 para dar mais realidade a uma cena. Em A Origem, no momento em que os personagens detonam as estruturas de um sonho, ele usou nitrogênio de alta pressão para criar uma série de explosões sem chamas e sem fumaça. Em Oppenheimer, Nolan criou uma explosão real em miniatura para simular o brilho ofuscante e a nuvem de cogumelo característicos de uma bomba atômica.
Em entrevista à revista Empire, o diretor disse que “a coisa mais óbvia a fazer seria criar todas as explosões com computação gráfica, mas eu sabia que isso não alcançaria o tipo de natureza tátil, irregular e real do que eu queria”. Vale ver aqui o processo por trás de alguns dos efeitos práticos do filme.
Espero que também não me odeiem por essa introdução.
As suas escolhas vão dizer o quão complexo será o caminho para realizá-las. Se você realmente acredita, siga em frente. Criatividade sem risco não é nada.
Bora garimpar?
“Existe algo mais importante que a lógica: a imaginação.
Se a ideia é boa, jogue a lógica pela janela”
Alfred Hitchcock
Uma seleção de links que me inspiram criativamente e que podem inspirar você também. Vem comigo.
- A B&Q é uma espécie de Leroy Merlin britânica. Na sua mais recente campanha, eles se inspiraram no que se popularizou como “faça você mesmo” das coisas em casa pra incentivar quem se auto-sabota ao pensar que não consegue realizar tarefas sozinho. Um filme pancada (literalmente) e diferente de tudo o que já vi do segmento:
- Uma marca que tem a capacidade de fazer parte da vida e da cultura de um país inteiro. "An American Love Story" é a forma como a Volkswagen resolveu celebrar seus 75 anos de Estados Unidos. Um filme clássico com cenas que mostram seus carros atravessando momentos da história no país, mas que ganha um peso emocional forte em se tratando de uma marca tão icônica:
- A Pot Noodle, marca de macarrão instantâneo do Reino Unido, usou o som irritante de pessoas "chupando" seu produto para dizer de uma maneira nonsense que nada satisfaz mais do que Pot Noodle. O barulho se tornou uma questão tão forte que eles fizeram outras versões do filme substituindo o som por outras coisas igualmente prazeirosas:
Games retrô:
Sons do mar:
Bebê rindo:
- Enquanto o Brasil promovia o show de horror do confronto entre Popo e BamBam, a Inglaterra divulgava a luta de boxe entre o britânico Anthony Joshua e o camaronês Francis Ngannou com uma campanha que nocauteou qualquer outra já criada na história do segmento. Uma mistura de live action com animação estilo Street Fighter incrível:
- A Apple tem abordado os recursos dos seus devices em campanhas bem legais. Agora, eles lançaram dois filmes que contam histórias reais para reforçar recursos do Apple Watch como o alerta sobre quedas:
E de notificações de frequência cardíaca:
- Heinz criou a primeira apólice de seguro de ketchup do mundo para quem ama Heinz, não importa o acidente que venha a enfrentar: [Link]
- O La Poste, os correios nacionais da França, instalaram mini-vestiários em suas próprias agências para facilitar a devolução de roupas compradas on-line e que não serviram em seus clientes. Simples, criativo e eficaz: [Link]
- Incrível o processo criativo por trás das fotografias dessa campanha do McDonald's. Pedaços de papel que formam imagens dos seus produtos: [Link]
- O Marcos Mion criou o "CêSegueEsse" e anda indicando perfis legais para seguir no Instagram. Boa iniciativa, papito:
- Dani é uma diretora criativa de agência que se tornou consultora e compilou milhares de estudos de caso neste site: [Link]
- Estou curtindo o podcast Guerras Comerciais: histórias reais não autorizadas de o que leva empresas e seus líderes a novos patamares - ou à ruína: [Link]
- Um belíssimo livro em formato de celular com dicas para vocês desplugar do seu celular: [Link]
- Porque marcas devem conversar e não apenas falar: [Link]
- A história oculta da fofoca:
- A primeira corrida de jet suit do mundo aconteceu em Dubai: [Link]
- Como IA pode ajudar agências em suas apresentações: [Link]
- Não confie no processo. Processos não resolvem problemas. Pessoas, sim: [Link]
- As reflexões do Sir John Hegarty (a letra H por trás da agência global BBH) são sempre simples e muito impactantes: [Link]
- Descobri a Newsletter do Braga depois que ele fez referência ao Garimpo Criativo. Na sua última edição, o Luciano (ou o Braga) abordou um tema que tem me pegado muito: a economia da atenção. Sigam lá:
- Branding no eterno agora: [Link]
- Metodologias para brand strategists: [Link]
- As 50 campanhas mais premiadas de 2023: [link]
- Como o futuro era imaginado em 1974: [link]
Obrigado por ler até aqui :)
O Garimpo Criativo é escrito por João Marcelo Meira, criativo, sócio e head de Criação da Komuh. Conecte-se comigo no Linkedin, por lá também tem conteúdo.