É assim que o Garimpo Criativo funciona:
Uma reflexão inicial seguida de uma curadoria de links para potencializar sua criatividade.
De 15 em 15 dias no seu e-mail (e na sua mente).
Como num plantão da Globo que interrompe toda uma programação, a última entrevista do Mark Zuckerberg abalou o mercado.
Num rebote dessa aparição do dono da Meta, veio aquela turma que se pronunciou quando o fogo foi descoberto, na revolução industrial e na popularização da internet: os profetas do apocalipse.
Para cada avanço significativo da humanidade, há sempre quem transforma os impactos do novo no fim do mundo.
Zuckerberg deu uma entrevista longa. Mas o que gerou maior rebuliço foi isso:
"Você é uma empresa, vem até nós, diz qual é o seu objetivo, conecta sua conta bancária, não precisa de criativo, não precisa de segmentação demográfica, não precisa de medição, exceto para poder ler os resultados que fornecemos" - Mark Zuckerberg em entrevista ao Stratechery
Como bem resumido aqui, a Meta vai acabar com a gestão manual de mídia e deixar que o algoritmo cuide de tudo com base em intenção, contexto e aprendizado em tempo real.
O orçamento vai ser alocado por IA.
A segmentação vai ser definida por IA.
O criativo vai ser gerado por IA.
O The Verge logo veio dizer que foi declarada guerra contra toda a indústria da propaganda. O Pyr Marcondes pôs fim na indústria da propaganda como a conhecemos. E por aí vai.
Há certa verdade nessas falas, mas é bom deixar a poeira baixar pra interpretar tudo com um pouco mais de parcimônia. O alarmismo pode ser didático.
O Estevão Soares fez esse vídeo aqui destacando alguns pontos do posicionamento do CMO da Meta sobre essa entrevista: a grande mudança vai acontecer para milhares de pequenos negócios que precisam da plataforma de anúncios para crescer (e que não têm verba pra contratar agências).
Esse sub aqui do Reddit, a fala do Gustavo e do Domenico carregam outras visões que também vale destacar:
IA trabalha baseada em histórico. Se seu histórico é ruim, a IA não vai conseguir resolver seu problema. O diferencial vai ser estratégia, análise e contexto de negócio.
Se todo mundo faz a mesma coisa, ninguém se destaca. Uma avalanche de pessoas entregando funções inteiramente pra uma máquina, vai gerar eficiência mas nenhuma diferenciação.
Segundo pesquisa da CX Trends (Octadesk), o maior motivo para alguém não clicar em um anúncio é não conhecer a marca. O problema não é a falta de oferta. É a falta de atenção e de confiança.
Produzir anúncios genéricos em segundos vai ser cada vez mais fácil, mas capturar o sentimento de um momento específico da sociedade e reverter isso em negócios, não.
Tô longe de ser a pessoa mais otimista do mundo. Eu acho de fato que estamos vivendo o que o cinema e a ficção científica nos contam há anos.
E o cenário é meio caótico mesmo.
Mas até não seremos aniquilados pelas máquinas (rindo de nervoso), há certas coisas que podemos aproveitar para nos desenvolver como profissionais.
Quanto mais automatizado for o trabalho (seja qual for esse trabalho), mais importante serão as habilidades humanas: criatividade, estratégia, capacidade de análise, resiliência, diálogo, negociação, e por aí vai.
Ao celebrar o Dia do Profissional de Marketing, a Bia Guarezi falou:
“Será que a conversa não deveria ser sobre o quanto a gente pode trabalhar melhor, de forma mais direcionada, criativa e saudável, hoje, ao invés de temer pelos nossos empregos no futuro?” - Bia da Bits to Brands
Outra Bia, a Granja, falou sobre a volta da profundidade como estratégia: enquanto a quantidade de conteúdo feito por IA aumenta e a atenção da audiência diminui, as pessoas passam a valorizar de novo o que tem intenção, pausa, narrativa. Coisas que apenas um ser humano é capaz de entregar.
Eu sei, é difícil não ser apocalíptico ao profetizar o futuro. Mas, às vezes, é bom respirar antes de entrar no caos gerado por falas de bilionários inconsequentes.
Pra cuidar do presente com um pouco mais de calma (e alma).
Vamos aproveitar. Ainda não existe Skynet.
Bora garimpar?
“Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.”
Epicuro
Uma seleção de links que me inspiram criativamente e que podem inspirar você também. Vem comigo.
- Uma criança solta um pum no meio de uma sala de aula para iniciar uma campanha divertida dos papéis higiênicos Andrex. Tudo para que elas se sintam confortáveis para ir ao banheiro: [link]
- Em mais um exemplo que usa o humor pra comunicar, um homem é perseguido por seus eletrodomésticos na campanha da Ovo Energy, que salva os personagens do filme com a economia de energia:
- A nova campanha da empresa de seguros Confused.com transforma pessoas em balões de gás hélio para mostrar o alívio emocional ao fechar um bom contrato de seguro:
- A campanha de lançamento do novo Audi elétrico apresenta recursos como o teto de vidro com transparência comutável com um grupo de cantores em uma performance de I Like To Move It, clássico do filme Madagascar:
- No Egito, as pessoas costumam se referir a cartões de pagamento como "Visa" (“dinheiro ou Visa?”). Foi aí que eles resolveram oferecer às pequenas empresas um dispositivo ativado por IA que detecta cada menção a "Visa" e os recompensa com anúncios patrocinados no TikTok e no Instagram:
- A nova campanha global do Airbnb destaca o retorno do Experiências do Airbnb que conecta turistas com anfitriões para lazer nas cidades. Mensagens à parte, o que gostei mesmo foi da técnica da campanha. A narrativa e as ilustrações ficaram lindas:
- O Manual do Usuário é uma bela referência de produção de conteúdo sobre tecnologia. O Rodrigo Ghedin criou um diretório de newsletters e passou a divulgar entrevistas que fez com os autores delas. Na última semana, o Garimpo Criativo foi o destaque. Obrigado, Rodrigo :) [link]
- Um compilado legal de ações de marketing. Tem do Tinder até a série Round 6:
- Você sabia que propaganda chata é mais cara? [link]
- Nova função "Peak Points" (momentos de pico) do Google usa IA para identificar quando espectadores estão mais engajados para inserir anúncios: [link]
- Os melhores sites para achar refs visuais + imagem em domínio público que ninguém fala sobre: [link]
- O maior redesign da Netflix em mais de uma década tem busca por IA, feed de vídeos curtos e descoberta de conteúdo mais intuitiva e personalizada: [link]
- Letras fluviais: a arte dos pintores de barcos da Amazônia:
- Um site incrível com uma breve visão histórica do surgimento e impacto dos advogados prisionais: [link]
- Compre o seu bunker nuclear. Outro site maluco de legal: [link]
- 7 conselhos de CMOs para quem quer crescer na carreira de marketing: [link]
- Estas 8 dicas são a maneira mais rápida de aprender qualquer idioma agora mesmo: [link]
- Uma boa análise sobre o fenômeno dos bebês reborn: embora com aparência pueril e lúdica, revela muito mais sobre o espírito de nosso tempo do que parece à primeira vista: [link]
- Engajamento e posts: os números do show de Lady Gaga nas redes sociais: [link]
- Frames de Kill Bill refeitos à mão:
- O próximo grande romance americano será publicado no Substack? [link]
- InvestNews lança a primeira newsletter em áudio do país com a voz de jornalistas sintetizada por IA: [link]
- Como monetizar uma newsletter do zero?
- Às 9h da manhã, não me conte. Eu quero continuar não sabendo:
Obrigado por ler até aqui :)
O Garimpo Criativo é escrito por João Marcelo Meira, criativo, sócio e head de Criação da Komuh. Conecte-se comigo no Linkedin, por lá também tem conteúdo.
Eu sempre usei os modelos de IA disponíveis desde o lançamento e resolvi aprofrundar o conhecimento depois da hype dos agentes de IA. Conclusão: um monte de copia e cola de processos que fazem tudo massivamente.
Depois que fiz meu primeiro agente usando um vídeo do Youtube percebi que o valor ali não estava mais na automatização e sim na diferenciação. Você encontra códigos complexos que cria agentes só copiando e colando o código, várias empresas estão brigando pra pegar os early adopters e vão se consolidar - até uma nova onda surgir.
Ficam alguns questionamentos nessa nova realidade artificial: Como se destacada frente a tanto conteúdo genérico? Como a marca conversa no H2H (human to human)? O que são tendências de comportamento e cultura se as marcas não participam da cultura e só seguem as tendências?
Ótimo texto e curadoria!
Boa, Jão!
É entender que IA pode ser um grande aliado e não substituto de um bom trabalho.
No meu setor, vejo que só tem medo disso quem faz trabalho medíocre. Sempre acho que há e sempre haverá espaço para o bom profissional!